quarta-feira, 22 de abril de 2009

Declaração Política - Plenário de Abril 2009

Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,
Senhor Presidente do governo
Senhoras e Senhores Membros do Governo,
Portugal confronta-se hoje com os mais graves problemas da sua história dos últimos 35 anos.
O crescente aprofundamento das desigualdades e desequilíbrios sociais, o aumento inegável da pobreza e da exclusão põem hoje em causa o cerne do conteúdo do Regime Democrático nascido do 25 de Abril.
A verdade é que os caminhos que têm vindo a ser trilhados nas últimas décadas não conseguiram construir um país com maior justiça social, desenvolvimento, modernidade e bem-estar para todos.
Pelo contrário, temos hoje um Portugal mais injusto, com gritantes disparidades na distribuição dos rendimentos, que criam classes de cidadãos, acentuando o fosso entre os portugueses que beneficiam dos frutos do bem-estar e os que se vêm reduzidos à penosa luta diária pela sobrevivência.
Pelo contrário, temos hoje um Portugal mais dependente, onde o desígnio patriótico da soberania nacional é ameaçado pela destruição do aparelho produtivo e pela entrada desregulada de capitais estrangeiros em sectores estratégicos da nossa economia.
Pelo contrário, temos hoje um Portugal onde cada vez menos se reconhece a dignidade de quem trabalha. As profundas e graves limitações impostas aos direitos dos trabalhadores convertem o trabalho de actividade profícua e realizadora do indivíduo, em regime de exploração bárbara, sem horários, sem direitos, sem estabilidade.
Temos, por fim, um Portugal que não garante os direitos sociais básicos, à saúde, à habitação, à educação e ao emprego aos seus cidadãos que uma vez mais, como nos tempos que julgávamos passados, se vêm forçados a emigrar em busca de uma vida melhor.
A verdade é que muitas das expectativas criadas em relação ao Regime Democrático nascido do 25 de Abril foram lamentavelmente goradas.
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,
Senhor Presidente do Governo,
Senhoras e Senhores Membros do Governo,
Esta não é uma situação que nos tenha caído em cima, subitamente, qual fatalidade divina!
Estes são problemas que não nasceram ontem, nem se iniciaram em Setembro de 2008!
Não foi em 2008 que os portugueses começaram a perder poder de compra, a endividar-se e a reduzir o consumo interno. Não é de agora que a par do aumento do custo de vida, nomeadamente dos bens essenciais, tem sido acompanhado pela perda continua de poder de compra dos salários. Desde há muito que as falências das empresas se sucediam e cresciam os números do desemprego, empurrando cada vez mais portugueses para a pobreza e exclusão.
Os défices e problemas estruturais da nossa economia têm uma história, e ela não começou com a crise do “sub-prime”, senhores Deputados!
Se a palavra “crise” ganhou maior visibilidade desde que começaram a falir grandes instituições financeiras, a verdade é que, de há muito, que os portugueses a sentiam na pele e, de há muito, o PCP e outras forças sociais a denunciavam e combatiam.
A crise já cá estava, devastadora, imparável, ainda que negada com veemência pelos Governos do PS e PSD e pelas respectivas legiões de comentadores de serviço.
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,
Senhor Presidente do Governo,
Senhoras e Senhores Membros do Governo,
Foi a execução de uma política irresponsável, tanto a nível interno como externo, que nos conduziu até aqui.
Como disse, não foi uma fatalidade, nem um azar do destino que nos colocaram nesta situação.
Esta crise tem responsáveis! Esta crise, tem rostos, nomes e filiações partidárias!
Foram as opções políticas tomadas pelos partidos que nos governaram nas últimas décadas, PS, PSD e CDS-PP que, de forma consciente e intencional, destruíram a nossa capacidade industrial, especialmente em termos de indústria pesada e actividades conexas, que esvaziaram a nossa agricultura e pescas, desvalorizando o seu peso social e económico.
Foram estes os autores das privatizações de grandes empresas estratégicas que asseguravam emprego, desenvolvimento e criação de riqueza para o país.
Foi esta política – objectivamente de direita, independentemente de quem conjunturalmente a aplica – que favoreceram o ressurgimento e concentração dos grandes grupos económicos, com prejuízo para as pequenas e médias empresas, que são o verdadeiro e real tecido económico do país.
Foi esta política que avançou na desregulação das relações laborais, que sempre defendeu a contenção salarial e a consequente perda de poder de compra das famílias, aumento do endividamento e retracção do consumo.
Foram estes os entusiastas do mercado financeiro desregulado, especulativo, que desviou o investimento da economia real e levou ao crescimento desmesurado de um sector bancário improdutivo, que se limita a parasitar os orçamentos das famílias endividadas.
Foram estes os defensores do desmantelamento, subversão e privatização dos serviços públicos essenciais, que generalizaram o conceito de utilizador-pagador, agravando as dificuldades sentidas pelos portugueses.
Foram estes partidos, não outros, que nos governaram.
Foi esta política, não outra, que arruinou as justas expectativas de desenvolvimento, prosperidade e bem-estar que nortearam a Revolução de Abril e que são fundamento do nosso sistema democrático!

Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,
Senhor Presidente do Governo
Senhoras e Senhores Membros do Governo,
Esta é uma questão de Regime.
E, para provar o que digo, quero ler-vos a seguinte frase:
“A pobreza representa uma privação do direito básico de cada indivíduo participar plenamente na vida social, económica, cultural e política da comunidade em que se insere.”
Ao contrário do que possam pensar, não citei o Programa do PCP, mas sim um dos estudos anexos ao Relatório da Primavera do Banco de Portugal!
Esta é a questão de fundo, Senhores Deputados.
A situação social do país exclui cada vez mais portugueses do pleno usufruto dos seus direitos de cidadania.
A verdade é que os desempregados, os despedidos, os mal-pagos, os precários, os pensionistas, os reformados, os desprotegidos, estão desprovidos do exercício dos seus direitos de cidadania, não são cidadãos!
E, neste campo, o crescimento do abstencionismo eleitoral é um sinal que nos deveria fazer reflectir profundamente.
Aproximamo-nos da situação paradoxal e perigosa e de termos não uma democracia para todos, mas sim uma democracia apenas para os que têm emprego, para os que têm rendimento, para os que têm educação, para os que têm saúde, para os que têm as condições necessárias para serem, de corpo inteiro, cidadãos.
E isto porque os componentes jurídicos, políticos, culturais, sociais e económicos do Regime Democrático são inseparáveis, interdependentes e interligados. Não há democracia política sem democracia cultural e sem democracia económica.
E esse, senhores Deputados, é o desafio de Regime que temos pela frente.
Ou somos capazes de alterar significativamente a distribuição dos benefícios do progresso económico, ou teremos de assumir que as instituições e este modelo de desenvolvimento falharam redondamente.
Ou somos capazes de integrar todos os portugueses no acesso aos bens e direitos essenciais ou teremos de assumir que o Estado é incapaz de cumprir o contrato social que nos une.
Ou construímos uma sociedade mais equilibrada e solidária ou enfrentaremos o abismo.

Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,
Senhor Presidente do Governo,
Senhoras e Senhores Membros do Governo,
Trinta e cinco anos volvidos sobre a Revolução do 25 de Abril é tempo de abordarmos, de forma decidida e enérgica estes problemas.
Saibamos colher dos ideais de Abril o rumo e orientação para as mudanças decisivas que se impõem.
Saibamos dar ao nosso povo o que o nosso povo de há muito anseia e merece:
Justiça!

Sala das Sessões, Horta, 22 de Abril de 2009
O Deputado Regional
Aníbal C. Pires

terça-feira, 21 de abril de 2009

Voto de Pesar - Emílo Ribeiro

Voto de Pesar

Faleceu no passado dia 3 de Abril de 2009, em Angra do Heroísmo, Emílio Martins Ribeiro, funcionário público reformado e personalidade de grande projecção na sua ilha e no conjunto da Região. Emílio Ribeiro dedicou a sua vida a todas a formas de associativismo, tendo estado ligado a inúmeras associações de natureza cultural, às quais imprimiu sempre grande dinamismo. Defendendo que os problemas só se resolvem com a participação dos interessados, ou que as causas justas só ganham força se forem amplamente apoiadas, Emílio Ribeiro dedicou toda a sua vida, muitas vezes com sacrifício próprio e da família, à vida de muitas associações e à acção de diversos movimentos sociais, desenvolvendo uma acção associativa verdadeiramente notável.
A presença, liderança e acção desenvolvidas, por muitos anos, no âmbito do Sindicato da Função Publica do Sul e Açores, do qual foi fundador nos Açores e a sua participação na Direcção Nacional desse Sindicato e na Federação Nacional dos Sindicatos da Função Publica, projectaram Emílio Ribeiro para a galeria daqueles dirigentes sociais e políticos que existiram para tudo darem sem procurarem receber seja o que for.
Democrata convicto, orientou a sua intervenção politica procurando contribuir para a introdução de equilíbrios em situações que, em certos momentos eram profundamente desequilibradas.
Cidadão desassombrado e após o 25 de Abril conhecedor dos seus direitos, Emílio Ribeiro deixou na imprensa regional um importante acervo de opinião escrita sobre as realidades sociais, culturais e politicas da nossa Região.
Tendo em conta o exposto e ao abrigo das disposições legais e regimentais aplicáveis, a Representação Parlamentar do PCP Açores propõe o seguinte Voto de Pesar:
A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, reunida em 21 de Abril de 2009, aprova um muito sentido Voto de Pesar pelo desaparecimento do Sr. Emílio Martins Ribeiro, funcionário público aposentado, dirigente sindical ao mais alto nível nacional e regional, dinamizador e dirigente associativo de grande qualidade, interventor politico e formador de opinião, a quem a Terceira e os Açores muito ficam a dever. A ALRAA apresenta também as mais sentidas condolências à sua família.

Sala das Sessões, Horta, 21 de Abril de 2009

O Deputado Regional do PCP
Aníbal C. Pires

Voto de Congratulação - 25 de Abril

Voto de Congratulação

Em 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, encarnando as profundas aspirações de liberdade do Povo Português, numa arrojada acção militar a que a população do país depressa se associou, derrubou a ditadura fascista que há muito mergulhara Portugal e os portugueses nas trevas negras da opressão, da guerra, da pobreza e do subdesenvolvimento.
A revolução de Abril, culminando uma longa e heróica resistência das massas populares e das forças democráticas, pôs fim a 48 anos de ditadura, pôs fim à guerra colonial reconhecendo aos povos em luta, há séculos submetidos ao colonialismo português, o direito à completa e imediata independência, alterou profundamente o enquadramento de Portugal na cena internacional e realizou profundas transformações políticas, económicas, sociais e culturais que constituem componentes de um sistema e de um regime que abriram na vida do País a perspectiva de um novo período da história, marcado pela liberdade e pelo progresso social.
Os trabalhadores e as suas organizações representativas, que nesse ano pela primeira vez festejaram o 1º de Maio em liberdade, tiveram um papel destacado de impulsionadores de muitas destas transformações, conquistando um vasto conjunto de direitos sociais e laborais que importa defender e aprofundar e que são componentes essenciais do Portugal de Abril.
Com este corajoso acto de emancipação abriram-se as portas à construção de uma sociedade democrática, assente num estado de direito, garantindo a todos os portugueses um conjunto de direitos e liberdades fundamentais, mas também repartindo por todos o dever de intervir e participar na construção de um Portugal mais justo e igualitário.
O 25 de Abril representou igualmente a conquista do sonho secular da Autonomia e o direito inalienável do Povo Açoriano ao auto-governo, condição essencial para o seu desenvolvimento e progresso e é, por isso também, uma data festejada e acarinhada por todas e todos os açorianos.
Tendo em conta o exposto e ao abrigo das disposições regimentais aplicáveis, a Representação Parlamentar do PCP, eleita pela CDU, propõe o seguinte Voto de Congratulação:
- A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores saúda o 35º aniversário da revolução de Abril, realização colectiva do Povo Português, histórica afirmação de liberdade, de emancipação social e de independência nacional e salienta a importância e a actualidade dos ideais de Abril continuarem a nortear a construção dos rumos do Portugal moderno, desenvolvido, democrático e livre;
- A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores saúda também todos os trabalhadores açorianos e as suas organizações representativas pela próxima passagem do Dia Mundial do Trabalhador e reafirma o seu profundo empenho na dignificação e valorização de quem trabalha, base produtiva indispensável ao progresso e desenvolvimento da Região e do País.


Sala das Sessões, Horta, 21 de Abril de 2009

O Deputado Regional do PCP
Aníbal C. Pires